sábado, 31 de dezembro de 2011

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Não me abandones, Pai!



Por ti
sobrevivi
para finalmente extrair
do fundo dos meus olhos
uma tristeza de menina abandonada.
Fui sombra, perdi-me
tentei alcançar proteção e paz
afoguei-me em sonhos no teu colo
e não consegui encontrar-me.
Nunca me resignei à tua ausência
sempre ouvi o eco do teu choro sofrido
o murmúrio da tua voz...chamando.
Gritei ao sol, ao céu
aos ventos, às primaveras e ao mar
não me abandones, Pai!
Agora, encontrei-te
dentro de mim, sorrindo
porque nunca te disse, ADEUS!
E nunca o direi...


Margarida Cândida Jorge

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

"Mudança"



"Quero mudar o hoje, gritar minhas verdades,
Libertar o meu ser, de to...da sanidade;
Não quero apenas ser, quero felicidade,
Colocando fora, todas as minhas vontades.

Quero descobrir minha verdadeira idade,
Quero tudo diferente, quero novidades;
Buscar alguém que provoque saudades,
Onde possa encontrar essa tal lealdade.

Meu tempo é o que vivo, um sonho,
Que começa e termina a olhos abertos,
E deixa em mim um olhar risonho.

E, esta imagem, faz meu olhar cobertos,
De outros pensamentos, menos tristonhos,
De dias felizes, e de cores repletos."
(Betânia Uchoa)

Dá um abraço?



De repente deu vontade de um abraço...
Uma vontade de entrelaço, de proximidade...
de amizade... sei lá...

Talvez um aconchego amigo e meigo,
que enfatize a vida e amenize as dores...
Que fale sobre os amores,
seja afetuoso e ao mesmo tempo forte.

Deu vontade, de poder ter saudade de um abraço.
Um abraço que eternize o tempo
e preencha todo espaço...
Mas que faça lembrar do carinho,
que surge, devagarinho,
da magia da união dos corpos,
das auras... sei lá.

Lembrar do calor das mãos,
acariciando as costas a dizer:
- Estou aqui!

Lembrar do enlaçar dos braços,
envolventes e seguros,
afirmando: - Estou com você!.

Lembrar da transfusão de forças,
ou até da suavidade do momento... sei lá...

Então,pensei em como chamar esse abraço:
abraço poesia, abraço força,abraço união,
abraço suavidade,abraço consolo e compreensão,
abraço segurança e justiça, abraço verdade,
abraço cumplicidade?

Mas o que importa é a magia deste abraço!
A fusão de energias, que harmoniza,
integra o todo e se traduz no cosmos,
no tempo e no espaço...

Só sei que agora deu vontade desse abraço.
Um abraço que desate os nós,
transformando-os em envolventes laços.

Que sirva de colo, afastando toda e qualquer angústia.
Que desperte a lágrima de alegria,
e acalme o coração...

Um abraço que traduza a amizade,
o amor e a emoção....

E para um abraço assim ,
Só consegui pensar em você!
Nessa sua energia,
nessa sua sensibilidade,
que sabe entender o por quê,
dessa minha vontade.

Pois então:
Dá logo este abraço!

MACEDO JUNIOR

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

À Grande Ausente II



Lá onde está
A Flor em pétalas desfeita,
Que eu não destruí ...
Encontra uma infância perdida
Numa alegria sem fim
Nos pés de duas crianças
Que para Si eu construí.

Diante de uma encanto tamanho,
Olha em volta e sorri,
Como nascesse de novo
O Seu Amor eu senti.

Obrigada, Mãe!

Rita Sampaio

Um desconcerto desconcertante...



Da janela do meu quarto
Vejo um mar infinito
Nele me sinto perdida,
Procurando, não encontrando,
Uma alma sofrida
Um desconcerto desconcertante …

Rita Sampaio

Lamento

Laços de sangue nos firmam
Não sempre da mesma maneira
Queira Deus, enfim, senti-los
Um dia ... quem sabe um dia ?!
Queira Deus ...
Assim Deus queira!!!

Rita Sampaio

domingo, 18 de dezembro de 2011

"Parei"...




A ampulheta no tempo
que estrangula e rouba a vida
que compassadamente floresce a ideia perene
que mesmo na amizade imtemporal... é semente
que não tem fim
que transforma, desmultiplica
e não acaba...

António Carlos Santos

sábado, 17 de dezembro de 2011

Rosas vermelhas...



Pintura de Margarida Jorge
(Rosas vermelhas, Maio de 2010)

Uma história...
Sem palavras
vi tristeza
nos teus olhos de menino
viravas-me o rosto
fugias dos meus lábios
quando evocava os teus.
Não me deste a mão
pedi... dá-me a tua mão
e sinto tudo de ti
mergulhava na magia do que sentia
a ternura...
Sem palavras
tudo se revelou
tudo se clarificou
tudo se esmoreceu
e doeu o silêncio
pelas palavras que senti.
A leitura era simples
pouco tempo tem esta história
escondida e sem ser única.
Sem choros
de olhos envernizados
inundada de tristeza
separamo-nos.
Podia ser lindo.
podiamos ser felizes
eramos livres e cheios de dor
uma razão para lutar
pela magia do amor...
Eu queria-te, pedia luz e amor
e tu fugias.
Dá-me tempo, dá-me espaço.
Para quê?...
Para curar um triste passado.
Olhavas em frente e lutavas por ti, por ti!
Lutei por ti, foi em vão!?
Foi tempo perdido? Não!
A vida é assim
são sortes... dizes
Aprendi, amei e
coroei-te de rosa vermelhas
com uma tela que pintei e gritou...
Ficou tudo o que era teu
sentimentos e recordações
uma história que ficou...

(Outubro de 2010)
Margarida Cândida Jorge

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Quando é que o cativeiro



Quando é que o cativeiro
Acabará em mim,
E, próprio dianteiro,
Avançarei enfim?

Quando é que me desato
Dos laços que me dei?
Quando serei um facto?
Quando é que me serei?

Quando, ao virar da esquina
De qualquer dia meu,
Me acharei alma digna
Da alma que Deus me deu?

Quando é que será quando?
Não sei. E até então
Viverei perguntando:
Perguntarei em vão.

Fernando Pessoa

Já não me importo

Pintura de Duma

Já não me importo
Até com o que amo ou creio amar.
Sou um navio que chegou a um porto
E cujo movimento é ali estar.

Nada me resta
Do que quis ou achei.
Cheguei da festa
Como fui para lá ou ainda irei

Indiferente
A quem sou ou suponho que mal sou,

Fito a gente
Que me rodeia e sempre rodeou,

Com um olhar
Que, sem o poder ver,
Sei que é sem ar
De olhar a valer.

E só me não cansa
O que a brisa me traz
De súbita mudança
No que nada me faz.

Fernando Pessoa

Antes de amar-te...

Foto de Julio Cezar Ramos Bolo

Antes de amar-te, amor, nada era meu
Vacilei pelas ruas e as coisas:
Nada contava nem tinha nome:
O mundo era do ar que esperava.
E conheci salões cinzentos,
Túneis habitados pela lua,
Hangares cruéis que se despediam,
Perguntas que insistiam na areia.
Tudo estava vazio, morto e mudo,
Caído, abandonado e decaído,
Tudo era inalienavelmente alheio,
Tudo era dos outros e de ninguém,
Até que tua beleza e tua pobreza
De dádivas encheram o outono.

Pablo Neruda

Não, não é cansaço...



É uma quantidade de desilusão
Que se me entranha na espécie de pensar.
É um domingo às avessas
Do sentimento,
Um feriado passado no abismo...
Não, cansaço não é...
É eu estar existindo
E também o mundo,
Com tudo aquilo que contém,
Como tudo aquilo que nele se desdobra
E afinal é a mesma coisa variada em cópias iguais.

Álvaro de Campos

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

"Sonhos dissipados"



Espraio-me na magia
de uma portentosa
natureza mórbida
de esperança... .
No silêncio do cosmos,
dissipado de sonhos,
a alma vaza melancolia.
Ouço o murmúrio do vento,
um lamento profundo … .
Sofregamente suplica
a ilusão perdida … .

Helena Martins

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Às vezes é tarde demais...

Às vezes é tarde demais, para seguir em frente.
Às vezes é cedo demais, para voltar atrás.
O tempo também é inverso, à nossa vontade.
E às tantas o que nos atrai, já não é verdade.
Porque é fácil não estar no lugar marcado,
E é tão fácil seguir o caminho errado.

Às vezes eu não salto com medo de voar,
Às vezes eu não sonho, com medo de acordar.
Às vezes eu não canto, com medo de me ouvir,
Às vezes eu entendo, que é apenas um momento, e o melhor há-de vir.

Anónimo...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

OLHAREI PARA TI, COMO SEMPRE, ETERNAMENTE



Foto de José Manuel Fernandes "Despedida de Verão no Outono"


As velhas tardes outonais serão benéficas para tratamento de questões naturais. Haverá algo mais a preservar que um sorriso e um olhar? Guarda esse último lugar para sempre e eu olharei para Ti, como sempre, eternamente!

FRANCISCO MILHEIRO AZEVEDO

SENDA

Pintura de Joan Mitchell

sabes… tantas vezes me apetece imaginar que nada foi?
passou um vulto que me ocupou o olhar, o tempo.
mas mantém-se no horizonte um navio que me segue os passos,
rumando a nenhures.
por vezes cai na fenda do sol
e amanhece nos meus sonhos de rosto queimado,
recordando-me a texturas das velas,
o aroma da noite,
as paredes da casa,
recordando-me qualquer coisa de ti!
quase sempre o último beijo,
quase sempre!
e eu fico depois a saborear-te em todos os outros beijos,
dentro dos meus.

LUISA AZEVEDO

CANÇÃO DE AMOR

Pintura de Duma

Eu cantaria mesmo que tu não existisses,
faria amor, assim, com as palavras.
Eu cantaria mesmo que tu não existisses
porque haveria de doer-me a tua ausência.


Por isso canto. Alegre ou triste,canto.
Como se, cantando, tocasse a tua boca,
ainda antes da tua presença.
Direi mesmo, depois da tua morte.


Eu cantaria mesmo que tu não existisses,
ó minha amiga, doce companheira.
Eu festejo o teu corpo como um rio,
onde, exausto, chegarei ao mar.


Sim, eu cantaria mesmo que tu não existisses,
porque nada eu direi sem o teu nome.
Porque nada existe além da tua vida,
da tua pele macia, dos teus olhos magoados.


Assim quero cantar-te meu amor,
para além da morte, para além de tudo.




JOAQUIM PESSOA, in CANÇÕES DE EX-CRAVO E MALVIVER (Moraes Ed.,1977)

Não digas nada!



Pintura de Benvindo de Carvalho

Não digas nada!
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer
E tudo se entender
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer

Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

Fernando Pessoa

Com as mãos...



Com mãos se faz a paz se faz a guerra.
Com mãos tudo se faz e se desfaz.
Com mãos se faz o poema – e são de terra.
Com mãos se faz a guerra – e são a paz.

Com mãos se rasga o mar. Com mãos se lavra.
Não são de pedras estas casas mas
de mãos. E estão no fruto e na palavra
as mãos que são o canto e são as armas.

E cravam-se no Tempo como farpas
as mãos que vês nas coisas transformadas.
Folhas que vão no vento: verdes harpas.

De mãos é cada flor cada cidade.
Ninguém pode vencer estas espadas:
nas tuas mãos começa a liberdade.

Manuel Alegre

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

"Os olhos de Isa"

Sim, tu estás em toda a parte. Em toda a parte.
Tão por dentro de mim. Tão ausente de mim.
E eu estou perto de ti porque te amo.

Joaquim Pessoa, in 'Os Olhos de Isa'

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Conselho...

Desenho de Arpad Szenes

Ele disse:
cuida de ti
concentra-te em ti
conhece-te
aprende a conhecer-te
tem prazer
dá prazer
a quem te rodeia
acredita em ti
e deixa-me fazer-te feliz.
Ela deixou...

Maria José Meireles

domingo, 4 de dezembro de 2011

"Amizade"



Pode ser que um dia deixemos de nos falar...
Mas, enquanto houver amizade,
Faremos as pazes de novo.

Pode ser que um dia o tempo passe...
Mas, se a amizade permanecer,
Um de outro se há-de lembrar.

Pode ser que um dia nos afastemos...
Mas, se formos amigos de verdade,
A amizade nos reaproximará.

Pode ser que um dia não mais existamos...
Mas, se ainda sobrar amizade,
Nasceremos de novo, um para o outro.

Pode ser que um dia tudo acabe...
Mas, com a amizade construiremos tudo novamente,
Cada vez de forma diferente.
Sendo único e inesquecível cada momento
Que juntos viveremos e nos lembraremos para sempre.

Há duas formas para viver a sua vida:
Uma é acreditar que não existe milagre.
A outra é acreditar que todas as coisas são um milagre.

"Amizade"-de:Albert Einstein

Peço...

Pintura de Helena Abreu

Esperando
sem uma palavra.
Deixa-me mergulhar
nos sonhos que vivi
é o único alento.
Peço tão pouco
um terno olhar
uma mão
um ombro amigo
um abraço
um beijo...
Quero luz, a do Sol
a da noite, tenho medo
desejo menos que uma criança.
Peço palavras sentidas
e verdadeiras.
Ofereço um mundo
só o mar é que me houve.

Margarida Cândida Jorge (5/6/2011)

Um vento vindo do mar...

Pintura de Helena Abreu

Um vento vindo do mar
quente e suave
se levantou.
Consigo levou
todos os meus medos
tristezas
e prantos...
O vento enlaçou-me
com o seu calor
senti uma ternura
jamais esquecida
como se estivesse
em nuvens de sonhos...

Margarida Cândida Jorge

Pedi...



Pedi...
Desejei
lutei
amei
esperei...
E nada, NADA!
É difícil
deixar de amar
se existe verdade.
Dói muito
só o tempo
é que cura a dor
de quem não me "viu".

Margarida Cândida Jorge (17/3/2011)

Pensamento...

Hoje senti que já era TEMPO de te dizer obrigado por estares
comigo nesta travessia...
Planta afectos na tua alma , rega o teu jardim e sorri...
CARLOS

sábado, 3 de dezembro de 2011

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Citações de William Shakespeare

Não, Tempo, não zombarás de minhas mudanças!
As pirâmides que novamente construíste
Não me parecem novas, nem estranhas;
Apenas as mesmas com novas vestimentas.

William Shakespeare

Temos muito tempo…



Temos muito tempo… Mas o tempo é qualquer coisa que se corta num golpe súbito de tesoura, quase sempre sem aviso. Três semanas, três anos, trinta anos… O tempo é apenas tempo. É água que escorre entre os dedos das mãos.
A verdade é que não temos muito tempo.
Enquanto cometemos a tolice de ir vivendo como se fôssemos viver… sempre, a nossa vida está às escuras, à espera de um acto de coragem que lhe dê cor e sentido.

(Paulo Geraldo)

Fraternidade das palavras



Amigos:
as palavras mesmo estranhas
se têm música verdadeira
só precisam de quem as toque
ao mesmo ritmo para serem
todas irmãs.

José Craveirinha

Assim a luz ao madrugar...

Pintura de Arpad Szenes - Les sables

Assim a luz ao madrugar liberta
E uma se multiplica
Para inventar o espanto o alvoroço a festa
Do reino revelado

Oásis e palmar – distância justa
Atenta invenção do que foi dado
O pintor pinta no tempo respirado
Reconhece o mundo como um rosto amado

Pinta as longas extensões as longas lisas linhas
O caminhar comprido da terra e suas crinas

Pinta o quadro dentro do qual o quadro
Se tece malha a malha como em tear a teia
O outro quadro do quadro convocador convocado
Pinta o bicho egípcio os dedos da palmeira

Assim a luz ao madrugar liberta
A ternura funda nossa aliança com as coisas
Eis o mito solar a fina mão do trigo o bicho grego

O amor que move o sol e os outros astros
- Como o Dante Alighieri disse –
Move e situa o quarto o dia o quadro

(Sophia de Mello Breyner Andresen)

De repente...

Pintura de Arpad Szenes

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como a bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.
De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

(Vinicius de Moraes-Soneto da separação)

Dá-me a tua mão...



"Toca carinhosamente
na pessoa que amas
esse teu gesto significa
eu amo-te
dito de uma forma especial."
Sempre te pedi...
Dá-me a tua mão
e sinto tudo de ti.
Nunca me cansei de pedir
porque simplesmente
te amava...

Margarida Cândida Jorge

domingo, 27 de novembro de 2011

Aprendi a "voar" sozinha



Andei de baloiço e quis voar, andei de bicicleta e quis voar, andei a trepar árvores e muros e quis voar...
Aprendi a "voar" sozinha.

Margarida Cândida Jorge

O entardecer...



O entardecer
é um clarão dourado e difuso
que se espalha
nas águas do oceano.
Faz sombras nos rochedos
brinca com os corpos que dançam
embeleza as rendas das ondas
estende-se nas algas
aquece a areia
e cega os amantes...

Margarida Cãndida Jorge

AUSÊNCIA de Sophia de Mello Breyner

Sophia de Mello Breyner Andresen


Num desreto sem água

Numa noite sem lua

Num país sem nome

Ou numa terra nua

Por maior que seja o desespero

Nenhuma ausência é mais funda do que a tua.

Sophia de Mello Breyner Andresen

EU QUERIA AMAR AQUI



-Na sonoridade de um "grito" rural,

- Num silêncio cumplice em fantasias,

-Plantar em cada vaso um certo sorriso de olhar adolescente,

-Esculpir pelas trepadeiras,

-Os gestos das nossas mãos descaídas em nossos corpos,

-Quanto "sonhei" amar aqui.../... Amor,

-Exorcitar a lividez granítica da urbanidade...

-Oh! Amar assim...

-O tempo não parou...

-E tu amor...não passaste por aqui

VITOR MARQUES

ÉS O POEMA



és o poema e a aurora
que esboça no corpo um discurso húmido de cânticos nocturnos

és o poema e a fissura dos meus olhos
donde derramo a tinta com que escrevo teu nome

és o poema que perdura cardíaco
entre labaredas e jardins proibidos das geografias internas

és o poema e o consolo duma boca
que beija no ventre uma borboleta em chamas

és o poema e a navegadora sem tempo
no meu peito de pétalas secretas

és o poema e a intimidade de uma lágrima
onde sal nocturno segrega a espuma do sonho

és o poema de todos os poemas até à bruma no horizonte

MIGUEL DE CARVALHO

Uma flor humilde...

Pintura de Margarida Jorge

Creio no impossível
creio que o céu e o mar
são uma união perfeita.
E uma flor humilde
encostada a um muro
espera que alguém
aprecie a sua "beleza".

Margarida Cândida Jorge

Pensamento...

"Simpatizo cada vez mais com quem nos ajuda a remover obstáculos mentais e emocionais, e a viver de forma mais íntegra, simples e sincera."
Martha Medeiros

Reencontra...

" O imprevisto acontece e alguém te encontra, e te reencontra, te reinventa, te reencanta, te recomeça... "
Anónimo

AMIGO



Acrílico sobre tela: Friends, de Yulonda Rios

Mal nos conhecemos
Inaugurámos a palavra «amigo».

«Amigo» é um sorriso
De boca em boca,
Um olhar bem limpo,
Uma casa, mesmo modesta, que se oferece,
Um coração pronto a pulsar
Na nossa mão!

«Amigo» (recordam-se, vocês aí,
Escrupulosos detritos?)
«Amigo» é o contrário de inimigo!
«Amigo» é o erro corrigido,

Não o erro perseguido, explorado,
É a verdade partilhada, praticada.

«Amigo» é a solidão derrotada!

«Amigo» é uma grande tarefa,
Um trabalho sem fim,
Um espaço útil, um tempo fértil,
«Amigo» vai ser, é já uma grande festa!

Sophia de Mello Breyner Andresen

Vi até ao fim...

Foto de Evelina Averynova

Vi até ao fim
o pôr-do-sol
mergulhada em sonhos.
Acendi as velas
pus a mesa
uma rosa num solitário
fiz o jantar.
Requintada
como sempre me vi
jantei acompanhada
por uma bela melodia...
Como se estivesses comigo.

Margarida Cândida Jorge

Renascer...



O tempo
cura as feridas
ficam as emoções
o essencial.
Regressam sentimentos
o amadurecimento nos ensina
que o verdadeiro amor
sabe a sua dor.
Em restos de tempo
"com asas feridas"
aprendes a voar
num céu de azul intenso
de sonhos e esperanças.
Será o renascer
de uma linda história.

Margarida Cândida Jorge (7/5/2011)

O puzlle...


Fotografia de Katia Shaucheva

Há muito
que devia ter partido
para uma longa viagem
à volta de mim.
A verdade é que os sentimentos
são fortes
sempre foram
para pouco viver.
Foram tantas as falhas
que sinto um vazio
e de olhar perdido
vejo tristeza
só a ternura persiste.
Amanhã estarei desfeita
e talvez "morta"
de sentimentos e cansaço.
E tu já não terás mais tempo
para imaginar sequer que me amaste.
Tenho certeza do que sentes.
Não por mim...

Margarida Cândida Jorge (27/5/2011)

MORRESTE-ME



"Dorme, pequenino, que foste tanto. E espeta-se-me no peito nunca mais te poder ouvir ver tocar. Pai, onde estiveres, dorme agora. Menino. Eras um pouco muito de mim. Descansa, pai. Ficou o teu sorriso no que não esqueço, ficaste todo em mim. Pai. Nunca esquecerei."

JOSÉ LUÍS PEIXOTO

RENTE A TI



meu amor… sabes,
o meu corpo quer-te,
não eu!
é na pele que te sinto… sei-o
quando fecho os olhos e não te vejo!
à noite estás rente a mim,
com a tua boca na minha,
o teu arfar dentro do meu,
os dedos cruzados nos nós que aperto...
sinto-o!
cobre-me uma humidade, não só minha,
e sei-o!
sobe-me no ventre a maré das lagoas lunares,
branca névoa saturada de vidas.
sabes, quando o meu corpo te quer,
e eu não, dói-me ainda mais a tua ausência!


LUISA AZEVEDO

sábado, 26 de novembro de 2011

UM OUTRO POEMA DE AMOR


Pintura de Helena Abreu

No fundo, as relações entre mim e ti
... cabem na palma da mão:
onde o teu corpo se esconde e
de onde,
quando sopro por entre os dedos,
foge como fumo
um pequeno pássaro,
ou um simples segredo
que guardávamos para a noite.

NUNO JÚDICE, in O MOVIMENTO DO MUNDO,

TENHO QUE REENCONTRAR-TE


tenho que reencontrar-te,
saber se os teus beijos são assim, reais,
como a minha boca conta por dentro
e se os teus dedos percorreram em mim
labirintos, teus!
... tenho que reencontrar-te,
olhar-te,
tocar-te,
cheirar-te de novo,
saber se o teu sabor é este néctar
que me corre na voz.

LUISA AZEVEDO

ALÉM-TÉDIO


Nada me expira já, nada me vive...
Nem a tristeza nem as horas belas.
De as não ter e de nunca vir a tê-las,
Fartam-me até as coisas que não tive.

Como eu quisera, enfim de alma esquecida,
Dormir em paz num leito de hospital...
Cansei dentro de mim, cansei a vida
De tanto a divagar em luz irreal.

Outrora imaginei escalar os céus
À força de ambição e nostalgia,
E doente-de-Novo, fui-me Deus
No grande rastro fulvo que me ardia.

Parti. Mas logo regressei à dor,
Pois tudo me ruiu... Tudo era igual:
A quimera, cingida, era real,
A própria maravilha tinha cor!

Ecoando-me em silêncio, a noite escura
Baixou-me assim na queda sem remédio;
Eu próprio me traguei na profundura,
Me sequei todo, endureci de tédio.

E só me resta hoje uma alegria:
É que, de tão iguais e tão vazios,
Os instantes me esvoam dia a dia
Cada vez mais velozes, mais esguios...

MÁRIO DE SÁ CARNEIRO

URGENTEMENTE


É urgente o Amor,
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras

Cai o silêncio nos ombros,
e a luz impura até doer.
É urgente o amor,
É urgente permanecer.

EUGÉNIO DE ANDRADE

BASTAVA-NOS AMAR

Imagem de Joaquim Pessoa


Bastava-nos amar. E não bastava
o mar. E o corpo? O corpo que se enleia?
O vento como um barco: a navegar.
Pelo mar. Por um rio ou uma veia.
Bastava-nos ficar. E não bastava
o mar a querer doer em cada ideia.
Já não bastava olhar. Urgente: amar.
E ficar. E fazermos uma teia.
Respirar. Respirar. Até que o mar
pudesse ser amor em maré cheia.
E bastava. Bastava respirar
a tua pele molhada de sereia.
Bastava, sim, encher o peito de ar.
Fazer amor contigo sobre a areia.

JOAQUIM PESSOA

FIZ-ME AO MAR

Tremem-me os lábios, adejam
velas assopradas por teu fogo.
Em labaredas minhas naus navegam
tua língua, onde a minha vogo!

Náufragas caravelas, tombam
meus braços… No teu ventre afogo!
Baia de águas que mareiam,
tempestuoso o mar que arrogo!

E na tua calma me alimento,
meu dorso velejo no teu curso
para alcançar praia… Tu, nem tentas!

Em ti embalo o meu tormento,
invento o verso mais extenso.
Do nada… tudo me prometas!

LUÍSA AZEVEDO

ACORRE-ME


aprisionaste-me a noite nos olhos
enquanto a lua ocultava o sorriso.
se pudesses ver-me…
de mãos trémulas e vazias,
a dor a escorrer-me do peito,
sem luta.
se sentisses o frio que me desagasalha as palavras
e preenche o espaço entre os dedos,
onde não estás.
se percebesses o pavor do desconhecido,
invento-o.
queria proteger-me no calor do teu corpo
e demorar-me…
demorar-me,
dentro das tuas mãos!


LUISA AZEVEDO

TOCA-ME



Imagem:Pablo Picasso "Blue Nude" período azul

Um pássaro canta sobre as dunas.
Calou-se o mar nos teus cabelos. Eu perdi-te?
Uma chuva de palavras festeja as minhas mãos.
Nenhuma faz sentido. Não há rosas
que me possam pagar esta tristeza.

Apenas isto: dizer que tens um nome
que a tua própria boca desconhece.
E amar-te. Assim. Como se a morte
fosse em nós a última carícia.

Na tua boca a minha boca canta.
E os potros da alegria vão seguindo
os dedos que os teus seios enlouquecem.

Conheço-te. Estás nua no meu leito.
É em ti que a madrugada principia.
Mas quem?, quem virá dizer que a noite
tem o teu rosto e olhos clandestinos?

Toca-me. Não fales. Eu invento
as palavras que os deuses não merecem.

Joaquim Pessoa

QUERO-TE ABRAÇAR COM FORÇA


Em silêncio
Apertado
Apertadinho
Na concha do meu corpo
- em posição fetal -
No calor do meu desejo
Nem sempre sexual
Te esmagar a boca em mil beijos
Te ouvir dizer, baixinho:
Amo-te!
Te abracar de novo
Como necessidade vital
Que bom...
Ainda tenho esses desejos!
Estou viva!
O amor é minha grande...
Talvez única vocação.

Helem Mezadre

DÁ-ME


Dá-me um abraço...no cansaço de uma vontade...
Grita-me um amor na sede de um palavra “convicta”
Sufoca-me no beijo onde as nossas línguas dancem
No rimar de um entender sólido a dois...maré cheia...
De sentires e paz a dois...caminho fora até ao sol luz

Dá-me esse som, ou palavra no sorrir cúmplice coração
Aperta-me e mordisca-me o prazer, na pergunta ...acreditas?
Mergulha-me no teu seio e obriga-me a ouvir essa certeza
Pergunta-me vezes sem conta se ouvi o teu ver compreensivo ...
E anula-me a preocupação perene...com assinatura lacre real!

in DA JANELA DO MEU (A)MAR - JOSÉ LUÍS OUTONO

TERNURA

Imagem de Alex Alemany


Desvio dos teus ombros o lençol
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do Sol,
quando depois do Sol não vem mais nada

Olho a roupa no chão que tempestade!
há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
em que uma tempestade sobreveio…

Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo

Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

DAVID MOURÃO FERREIRA
in Infinito Pessoal ou Arte de Amar

DEMASIADO, FRÁGIL

Procuro um sossego por entre os passos instáveis que me conduzem. Procuro um espelho e o reflexo da imagem em que me constroem. Receio. Parece-me que a vida é uma representação para a qual não ensaiei. Olho-me. Tento perceber onde ficam as margens da máscara que me engana, ou com que engano. Involuntariamente. Não. Eu não sou assim. Será tão difícil perceber a minha fragilidade? Inquieta-me este sentir ser fraude, sem que o pretenda ser. Olho-me e não me reconheço no que os outros me vêem. Introspecção: serei tão diferente do que penso ser? Dispo-me. Mas a nudez apenas me mostra a fragilidade com que fui ser. Não me matem vivo, pois sou excessivamente ténue para resistir a qualquer tentativa de derrube. Quero ficar de pé para ter a certeza que sou, aquilo que sei ser: frágil,
demasiado, para duvidar dos passos em que caminho.

JOÃO COSTA

Publicada por Maria Antónia em Sábado, Novembro 26, 2011 0 comentários Etiquetas: DEMASIADO, FRÁGIL

PODES VOAR MESMO DE ASAS FERIDAS

SABIAS...
Sabias que o vento são segredos?
Que a chuva são lágrimas de anjos?
Sabias que os medos são correntes?
Que as paixões amarras?
Que os amores prisões?
...Sabias que se tiveres coragem, podes cruzar os céus e voar, mesmo de asas feridas?

Abel Fernandes Antunes
Publicada por Maria Antónia em Sábado, Setembro 24, 2011
Etiquetas: PODES VOAR MESMO DE ASAS FERIDAS

Pensamento de Fernando Pessoa...