sábado, 21 de abril de 2012

POEMA ACABADO

Foto de António Carlos Santos

Agora choro baixinho
os ecos da saudade,
o prelúdio dos sonhos
e o verso dos jardins floridos.
É como uma espada na estação das flores,
em sussurrantes devaneios
num instante feliz de mim.
Este suave infinito em azul
é uma asa cortada em cinzas uma fuga mística,
um suspiro um pedido de abrigo!
Dancei na tua meiguice,
e aí vivi no cume da vida com novas ilusões
o fogo do Amor em bulícios desvairados...
Dentro desta melancólica
saudade que irrompe o silêncio
há um despertar rutilante em uníssono de Amor e Vida.
Sonho a minha alma e liberto os meus véus
neste vasio obscuro de mim,
com palavras frágeis e efémeras mas com a tua música no coração!
Neste cruciante silêncio da alma fui em busca de inspiração,
em cada palavra transpirada, neste vestíbulo de Amor e Paixão.
E hoje o vento que aqui passou trouxe-me saudades Tuas...
dos nossos aturdentes sonhos e fantasias e das nuvens coloridas...
Como as ondas do mar, carinho,
deixaste-me um travo de água salgada
neste meu peito em vai e vem de dor tornando a minha vida uma madrugada.
Hoje vago entre a bonança, em busca das estrelas,
numa completa cessação de ventos
como sol e lua na busca de sonhos teus.
Este é um poema acabado
que me faz beijar a tua boca
e percorrer linhas de um céu
Teu assim como que um perpétuo beijar de poesia!

António Carlos Santos

sexta-feira, 6 de abril de 2012

VOLTEIO

Não sei porque ando por aqui
Menos sei o que aqui faço
Ando às voltas à procura
De uma razão

Não sei o que não faço aqui
Menos sei porque não o faço

Não sei o que faço ou não faço aqui
Mas sei que quando o faço me enriqueço
Quando nada faço me empobreço

Não sei porque ando aqui
Mas sei que aqui estou
Fazendo ou não fazendo

O resto, não me incomoda
Porque certamente já morri!


Delfim Peixoto

DESENCONTRO

Perdi-me perdendo-te de mim
Como brisa que toquei e não segurei
Como areia que toquei e ao mar deitei
Em ondas perdidas nas correntes fugazes

Sou o vazio, agora que o sol se põe,
Como noite sem lua ou estrelas
Ou como teclas silenciosas
Da melodia que cantei

Perdi-te, perdendo-me de ti
Como vento soprando forte
Na luz do farol dessa foz

Sou o que já nada sente
Senão o teu abraço de maresia
Que sinto sem os teus braços

Mas o mar trás memórias vivas
Nas ondas que entoam como a tua voz
E assim me encontro, encontrando-te onde me perdi.

Delfim Peixoto

Renova-te

Renova-te.
Renasce em ti mesmo.
Multiplica os teus olhos, para verem mais.
Multiplica-se os teus braços para semeares tudo.
Destrói os olhos que tiverem visto.
Cria outros, para as visões novas.
Destrói os braços que tiverem semeado,
Para se esquecerem de colher.
Sê sempre o mesmo.
Sempre outro. Mas sempre alto.
Sempre longe.
E dentro de tudo."

Cecília Meireles